20 de set. de 2012

[quinta científica] O filtro invisível - O que a Internet está escondendo de você?

O Filtro InvisívelA fim de conhecer melhor seus usuários --e com isso conseguir vender para eles anúncios publicitários dirigidos--, as grandes corporações que atuam on-line, como Facebook, Amazon e Google, criaram algoritmos que filtram toda a informação que recebemos por meio de seus serviços. Ao registrar nosso histórico na internet, esses sites constroem perfis de cada um de nós, e, acreditando nos entregar apenas o que desejamos, nos prendem em bolhas.

Ao buscar um filme, aparece sempre o mesmo gênero; ao procurar informações sobre política, temos acesso apenas àquelas que confirmam nosso ponto de vista. A internet que resulta desse processo é cada vez menos livre, e nós nos iludimos que temos controle de nossas escolhas, quando muitas vezes são dirigidas.

Eli Pariser, no entanto, não é um cibercético. O filtro invisível explica como essas bolhas funcionam, mas também conclama usuários e empresas a lutar por uma web verdadeiramente aberta.

Leia um trecho:

Introdução

A morte de um esquilo na frente da sua casa pode ser mais relevante para os seus interesses imediatos do que a morte de pessoas na África.
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook

Nós moldamos nossas ferramentas, e então nossas ferramentas nos moldam.
Marshall McLuhan, teórico da comunicação


Livro afirma que gigantes da internet nos 'confinam' em bolhas
Poucas pessoas notaram a mensagem postada no blog corporativo do Google em 4 de dezembro de 2009. Não era muito chamativa - nenhum anúncio espalhafatoso, nenhum golpe publicitário do Vale do Silício, só uns poucos parágrafos de texto perdidos em meio a um resumo semanal que trazia os termos mais pesquisados e uma atualização do software de finanças do Google.

Mas a postagem não passou totalmente despercebida. O blogueiro Danny Sullivan, que escreve sobre mecanismos de busca, esquadrinha os itens postados no blog do Google em busca de pistas que indiquem para onde se encaminha esse gigante do mundo virtual; para Danny, a postagem foi muito importante. Tão importante que, no dia seguinte, ele escreveu que aquela era "a maior mudança já ocorrida em mecanismos de busca". Segundo Danny, o título já dizia tudo: "Busca personalizada para todos."

A partir daquela manhã, o Google passaria a utilizar 57 "sinalizadores" - todo tipo de coisa, como o lugar de onde o usuário estava conectado, que navegador estava usando e os termos que já havia pesquisado - para tentar adivinhar quem era aquela pessoa e de que tipos de site gostaria. Mesmo que o usuário não estivesse usando sua conta do Google, o site padronizaria os resultados, mostrando as páginas em que o usuário teria mais probabilidade de clicar segundo a previsão do mecanismo.

A maior parte das pessoas imagina que, ao procurar um termo no Google, todos obtemos os mesmos resultados - aqueles que o PageRank, famoso algoritmo da companhia, classifica como mais relevantes, com base nos links feitos por outras páginas. No entanto, desde dezembro de 2009, isso já não é verdade. Agora, obtemos o resultado que o algoritmo do Google sugere ser melhor para cada usuário específico - e outra pessoa poderá encontrar resultados completamente diferentes. Em outras palavras, já não existe Google único.

Não é difícil enxergar essa diferença na prática. Na primavera de 2010, enquanto os escombros da plataforma de petróleo Deepwater Horizon cuspiam petróleo no Golfo do México, pedi a duas amigas que buscassem o termo "BP". As duas eram bastante parecidas entre si - mulheres com bom grau de instrução, brancas, politicamente de esquerda, vivendo na região nordeste dos Estados Unidos. Mas os resultados que encontraram foram bem diferentes. A primeira encontrou informações sobre investimentos na BP. A segunda, notícias. Para uma, a primeira página de resultados continha links sobre o derramamento de petróleo; para a outra, não havia nenhum link sobre o tema, apenas uma propaganda promocional da BP.

Até o número de resultados apresentados pelo Google variava - cerca de 180 milhões para uma delas e 139 milhões para a outra. Se os resultados eram tão diferentes entre essas duas mulheres progressistas da costa leste dos Estados Unidos, imagine a diferença entre os resultados encontrados pelas minhas amigas e, por exemplo, um homem republicano de meia-idade que viva no Texas (ou, então, um empresário japonês).

Agora que o Google está personalizado para todos, a pesquisa "células-tronco" pode gerar resultados diametralmente opostos para cientistas favoráveis à pesquisa com células-tronco e para ativistas opostos a ela. "Provas da mudança climática" pode gerar resultados diferentes para um ambientalista e para um executivo de companhia petrolífera. Segundo pesquisas, a ampla maioria das pessoas imagina que os mecanismos de busca sejam imparciais. Mas essa percepção talvez se deva ao fato de que esses mecanismos são cada vez mais parciais, adequando-se à visão de mundo de cada um. Cada vez mais, o monitor do nosso computador é uma espécie de espelho que reflete nossos próprios interesses, baseando-se na análise de nossos cliques feita por observadores algorítmicos.

O anúncio do Google representou um marco numa revolução importante, porém quase invisível, no modo como consumimos informações. Podemos dizer que, em 4 de dezembro de 2009, começou a era da personalização.

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